segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Brisa fria

Primeiro foi uma lágrima, que nem queria sugir. Depois, outra lágrima caiu sobre o travesseiro. O silêncio do quarto, o tumulto da mente, e um choro de dois minutos apareceu. Calou-se. Rastejou até a vitrola velha, sequer sabia que disco era aquele. Ouviu. Uma música triste a fez lembrar de tudo o que tentara em vão esquecer. Dor que lateja na alma. O que faria? Sair gritando pelas ruas vestida apenas com uma camiseta regata e calcinha definitivamente não era uma boa ideia, muito menos às três da madrugada. Ela não tinha forças para procurar roupas, da mesma maneira que não tinha forças para colocar a vida em ordem. E tudo ficava assim, jogado em qualquer lugar do armario. Uma coisa sobre a outra. Tudo amassado e perdido.
Não conseguia pensar em nada além da dor. Dor. Dor. DOR. Era a única palavra pairando por seus pensamentos. Encolhia-se no leito enquanto apertava o ursinho com o qual dormia abraçada na infância. Lembrou-se de ter sido criança. Chorou. Não se conteve. Quis esvaziar-se de todo fardo, sentiu medo. O ursinho já não podia proteger. Estava escuro. Suas mãos estavam frias. Seu rosto queimava. E se ela tivesse uma overdose naquele instante? Soava melhor do que procurar ajuda, sobreviver e passar a vida ouvindo o quão estúpida sempre fora. Apertou os lábios, soluçou, quieta. Tomou fôlego. Chorou até que seus olhos se fechassem devagar. Afogou-se no pranto. Ninguém nunca mais viu aquele rosto.