quinta-feira, 14 de março de 2013

Licantropia - parte II

A madrugada chegava ao fim. Junto à luz d'aurora, os rugidos surgiam acompanhando o som de uma caminhada ritmada, o volume era crescente, aproximava-se, eu sentia. A fera despertava, outra vez, faminta. Sempre com aparência inofensiva, creio que seja essa sua maior arma para atrair as vítimas. Costumava inspecionar a cidade durante sua ronda matutina, planejava cada passo durante a tarde e apenas quando o sol se escondia, a fera mostrava as presas. Tinha por hábito desfilar com suas formas semi angelicais em plena claridade.
Quando chegava a hora do bote, lutava com a caça até que a mesma estivesse incapaz de reagir. Encarava-a com ternura, e então, deixava sua bomba-relógio explodir. Já não havia clemência alguma. Em seguida, limpava os rastros e fugia. Levava consigo cada uma de suas culpas afagadas. Escondia seus mártires. Engolia sua dose diária de veneno próprio. Não murmurava. Não chorava. Nada balbuciou. Não contava seus segredos. Nunca descansa. Nunca volta atrás. Jamais dormirá.